Teologia
Trindade: O Amor Maior
"No
Espírito Santo, por Jesus Cristo, temos acesso ao Pai" Um
inestimável valor Costuma-se
dizer que a Trindade é um mistério, e que, portanto, não adianta querer
compreendê-la. Será?
Por que então Deus quis se revelar como Pai, Filho e Espírito Santo?
Fechar-nos diante dessa realidade, recusar-nos a entendê-la melhor, seria
recusar uma oferta de inestimável valor.
É
conhecida a história de Santo
Agostinho. Esse grande santo, num dia de reflexão, andava por uma das praias
do norte da África, quando encontrou uma criança querendo colocar, com uma
conchinha, toda a água do mar num buraco feito na areia. Quando Agostinho
falou que ela não conseguiria colocar o mar nesse buraco, a misteriosa
criança retrucou que também ele não conseguiria colocar o mistério da
Santíssima Trindade em sua cabeça.
Excelente
lição! Diga-se porém que, se
nossa cabeça não comporta a Trindade, nós podemos fazer o contrário: colocar
nossa cabeça no mistério da Trindade, participando de tudo o que o Pai, o
Filho e o Espírito nos dão a conhecer.
E não
esqueçamos que
a Igreja nasceu da SS. Trindade, pois, como afirma o Concílio Vaticano II,
citando uma expressão de São Cipriano, é "um povo reunido na unidade do
Pai e do Filho e do Espírito Santo" (LG 4).
Verdade
fundamental
A fé
cristã está baseada sobre a revelação de que há um só Deus em três pessoas
diferentes. Uma prova disso: Desde os primórdios do cristianismo, o batismo
sempre foi celebrado "em nome do Pai, do Filho e do Espírito
Santo".
Esta
forma de falar de
Deus-Trindade já está presente na Sagrada Escritura quando Paulo,
dirigindo-se aos Coríntios, escreve: "Que a graça do Senhor Jesus
Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos
vocês" (2Cor 13,13).
Nos
primeiros séculos de
caminhada cristã, a Igreja, progressivamente, foi formulando sua fé
trinitária, seja para aprofundar o entendimento da mesma, como para
defendê-la de muitas interpretações erradas (heresias), que estavam
deformando a verdade original revelada.
A Igreja, para isso, realizou vários concílios, teve a
colaboração decisiva dos chamados Pais da Igreja, grandes teólogos, e sempre
contou com a fé e a ajuda do povo.
Toda
essa caminhada serviu
para reafirmar a grande verdade: as três pessoas divinas são diferentes entre
si, mas constituem o mesmo Deus. Deus é único e um só, mas não é solitário,
já que é uma comunidade formada pelo Pai, eplo Filho e pelo Espírito Santo.
Um só
Deus em três pessoas
Os
cristãos, portanto, crêem que há um só Deus verdadeiro em três pessoas:
1.º Pai, criador do céu e da terra, é Deus;
2.º
Filho, que se fez homem e recebeu o
nome Jesus Cristo, é o mesmo Deus;
3.º
Espírito Santo,
enviado a nós pelo Pai e o Filho, é também o mesmo Deus.
A
doutrina da Igreja Católica está
baseada nesta verdade e afirma que todas as ações de Deus, em favor da
humanidade, são feitas pelas três pessoas em comum, embora ela atribua ações
particulares a esta ou àquela Pessoa Divina.
Fala-se,
portanto, do Pai, como criador de tudo o que existe; do Filho, como salvador
e redentor; e do Espírito Santo, como santificador.
Crer
que Deus é Pai,
significa admitirmos que todos somos filhos e filhas e, portanto, irmãos e
irmãs, filhos de um mesmo Pai. Deus, nosso bom Pai, ama a todos sem
distinção.
Crer
que Deus é Filho,
significa acreditar que Jesus, enviado para anunciar pessoalmente o Reino de
Deus, é Deus também, feito homem e nosso irmão.
Crer
que Deus é Espírito Santo,
significa crer que Deus enviou seu Espírito para santificar e animar a vida
das pessoas e da Igreja.
A
primeira pessoa: Pai "Pai
nosso que estás no céu..." (Mt 6, 9)
Em suas
parábolas, Jesus descreveu a história da salvação apresentando o Pai como o
Senhor da messe e o proprietário da vinha que, constantemente, envia seus
servos a trabalhar nela e a colher os frutos. No fim, num grande gesto de
amor, Deus Pai envia seu próprio Filho (Mt 20,1-16).
A
origem, portanto, de toda ação
salvífica está no Pai. Neste seu projeto, os destinatários são os seres
humanos, suas criaturas prediletas que, pelo pecado, foram afastando-se dele.
Nas
Escrituras aparece
claramente a grande paixão desse Pai por nós e pela nossa salvação: "O
vosso Pai, que está nos céus, não quer que se perca um só desses
pequeninos" (Mt 18,14). A Parábola do Filho Pródigo é mais uma prova da
grandeza do amor misericordioso desse nosso Pai que, para a nossa salvação,
não poupará seu próprio Filho.
Jesus, falando de sua missão, apresenta-a como algo
que veio do Pai: "Eu não vim por mim mesmo. Quem me enviou é verdadeiro,
e vocês não o conhecem. Mas eu o conheço, porque venho de junto dele e foi
Ele quem me enviou" (Jo 7, 28-29).
O
Ressuscitado,
enviando os apóstolos, dirá: "A Paz esteja com vocês. Assim como o Pai
me enviou, assim eu vos envio" (Jo 20,21). Portanto, pelo envio de
Jesus, nós também somos os missionários do Pai.
O Pai é o modelo de perfeição que os discípulos
devem procurar alcançar: "Sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é
perfeito" (Mt 5,48).
O
caminho para o Pai é Jesus: "Ninguém
vai ao Pai senão por mim" (Jo 14,6).
A segunda
pessoa: O Filho "Eu
e o Pai somos um" (Jo 10, 30)
O Filho
existiu junto do Pai desde sempre, mas se deu a conhecer quando foi gerado em
Maria por obra do Espírito Santo.
Jesus, portanto, não é simplesmente um homem a mais
que apareceu na face da terra. Ele é o próprio Deus que assumiu a condição
humana e veio habitar entre nós (cf. Jô 1,1-18). O envio do Filho foi fruto
do amor radical do Pai: " Deus amou de tal maneira o mundo, que lhe deu
seu Filho único, para que, todo o que nele crer, não pereça, mas tenha a vida
eterna. Deus não enviou seu Filho para condenar o mundo, mas para que o mundo
seja salvo por Ele" (Jô 3, 16-17).
Os
motivos deste envio são claros:
restabelecer a paz e a comunhão dos seres humanos com Deus e formar uma
comunidade fraterna entre todos.
Outros
enviados (Patriarcas - profetas
...) já haviam precedido o Filho, mas eram apenas "servos". Agora,
o enviado é o Filho (cf Mt 21, 33-46).
Deus, pessoalmente, a partir de agora, realiza a
missão dentro da história: é assim chegada a plenitude dos tempos.
Jesus
Cristo apresenta-se sempre como
o "enviado do Pai", ou seja, se autodenomina um missionário:
"Não procuro a minha vontade, mas a daquele que me enviou" (Jô 5,
30).
O
continuadores desta
missão somo nós: "A missão da Igreja é realizar a missão de Jesus"
(AG 5). No momento em que deu o mandato missionário aos apóstolos, Jesus
proclamou solenemente que o Pai lhe tinha dado "todo o poder" para
tal (Mt 28, 18). Já imaginou: Jesus associou-nos na grande missão recebida do
Pai. Você, hoje, é o Cristo agindo pela salvação da humanidade!
A
terceira pessoa: Espírito Santo
"O
Espírito Santo, que o Pai vai enviar em meu nome, ensinará a vocês
todas as
coisas..." (Jo 14,26)
Diante
da tarefa, humanamente impossível, de deixar terra e tudo que tinham para
anunciarem a mensagem salvadora a todos os homens, Jesus prometeu-lhes:
"Eu estarei convosco...".
Mas de
que maneira? Eles
precisavam de um impulso inicial, vencer o medo, clarear muitos pontos sobre
a própria identidade do Mestre, já que havia ainda quem duvidasse.
Eis, portanto, a grande promessa: "Descerá sobre vós o Espírito Santo. Ele vos dará força e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, até os confins do mundo" (At 1,8).
Mas
quem é o Espírito Santo?
No
Antigo Testamento, o
Espírito revela-se, com freqüência, como "Força de Yahweh", que
"reveste, enche e impulsiona" os enviados a fim de poderem cumprir
a missão recebida (cf. Jz 6,34; 11,29; 13,25 etc).
No Novo
Testamento, a
partir de Pentecostes, o Espírito aparece como a força do cristão. Onde
estava aquele grupo de pessoas amedrontadas pela possibilidade de seguir a
mesma sorte dolorosa do Mestre?
Com a descida do Espírito Santo eles ficam completamente transformados. Ninguém reconhece mais aqueles rudes pescadores da Galiléia que, quase que tomados por uma embriaguez ou estranha exaltação, começam a falar em línguas diferentes e que, estranhamente, todos entendem.
O
Espírito Santo,
enviado do Pai e dom do ressuscitado, passou a ser a pessoa da Santíssima
Trindade que dinamiza a Igreja e lhe dá força em sua ação missionária no
mundo.
O
documento Ad Gentes, do
Concílio Ecumênico Vaticano II, lembra também que é por meio do Espírito
Santo que Jesus distribui os carismas para utilidade comum e inspira a
vocação missionária. É ainda Ele que predispõe as pessoas a se abrirem,
compreenderem e acolherem a Boa Nova do Reino anunciado.
O
Espírito Santo é
fundamental para o cristão e a Igreja. Dele nasce, em nossos corações, uma
realidade nova. Dele partem os impulsos para a ação e para a formação de
novas comunidades, sinais da presença do Reino.
Paulo
VI afirmou: "As
técnicas de evangelização são boas; porém, nem as mais aperfeiçoadas poderiam
substituir a ação discreta do Espírito Santo. Sem Ele, a dialética mais
convincente nada consegue sobre o espírito dos homens. Sem Ele, os esquemas
mais bem estruturados, sobre bases sociológicas ou psicológicas, revelam-se
depressa desprovidos de todo o valor" (EN 75).
Diga-se
também que a presença do
Espírito Santo não se limita ao interior da Igreja, como se fôssemos os
únicos a tê-lo conosco. Ele está no coração de cada criatura, na história de
cada povo e religião.
Ele está presente também onde a Igreja não chegou, inspirando idéias de verdade, de justiça, de paz... Esta convicção abre novos horizontes e possibilidades para a missão. O missionário sabe que o Espírito sempre o antecede e lhe prepara o terreno.
O
desafio maior da Trindade
O
mistério da SS. Trindade mostra que Deus é uma comunidade e, sem dúvida, a
mais perfeita de todas. Uma comunidade tão unida que, mesmo sendo as três
pessoas diferentes uma da outra, são um só e único Deus, a ponto de João
afirmar: "Deus é amor!" (1Jo 4,1 6).
E Deus
nos criou parecidos com ele, à sua
imagem e semelhança. Assim concluímos que, embora sejamos diferentes, fomos
criados para vivermos numa comunidade marcada pelo amor.
Os
primeiros cristãos foram
exemplo: eles conseguiram formar uma comunidade tão unida a ponto de serem
admirados e estimados por todos (cf. At 4,32-35). Essa é a maneira melhor de
viver a vida, à imitação da Santíssima Trindade, que, concretamente, nos
mostra que o amor pode ser vivido intensamente, respeitando as
características de cada um.
Não é
esse o tipo de
sociedade que almejamos e que devemos nos empenhar a construir?
“Mauri L. Heerdt e Pe. Paulo De Coppi”.
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